terça-feira, 31 de julho de 2007

. Espera .


Agora sei o quanto posso deixar abertas as portas, pois do meu jardim cuidei nas noites em que na cama revirei o avesso.


Penteio os cabelos três vezes ao dia e os tranço. Bordo pela tarde os lençóis sob os quais dormirá quando encontrar minha nova morada. Cozinho todos os dias, pois cansado de viagem chegará, quando provavelmente o vento soprará gelado, batendo feito brisa doce nos cabelos que já serão geada, pois de fato, os meus também são.


O rádio de pilha, sem sintonia aparente, fala das notícias de um mundo que não mais me pertence, não vivo mais dessas mentiras escandolosas. Vivo de mim, vivo da sua idéia.


Eu que a vida toda acreditei no amor arrumado e sem traças, agora sei que mesmo em infrutífero lamaçal, favas de algodão eclodem.


Sim.


Mesmo com a desordem, mesmo com a dor e as marcas, eu vi. Eu conversei com anjos, santos e quem sabe com o divino, todos sentados frente a mim garantiram que a preciosidade da vida estava no estourar devastador, não por menos o milho seco transformava-se de maneira assim.


Estouramo-nos, e por bem te amo.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

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Ensinou-me o amor daquele jeito tão desmedido, sem lençóis, ao chão.

Dançavámos na chuva e carregávamos o prazer através das gotículas. Não tinhámos horas nem porquês.

Era meu bem para fazer amor e os filhos que nem parimos. João, Cecília, Eduardo, Maria, Pedro, Clara, José.

Segredos espalhados pela rede, em cada vão, em cada nesga do pano.

Mas agora não sei onde tudo se escondeu, converso com as mobílias que já nos alojaram, penduro-me no lustre, vasculho nos cantos, afasto as teias de aranhas, abro por inteiro as janelas envernizadas por você na tarde de sábado depois de nos confundirmos na mesa posta de frutas.

E apenas encontro um espelho a dizer que nada mais me cabe, que não fui genuína que a tentação me fez vassala.

Não me culpo, nem duvido que amo por inteiro...

Sei que não será capaz de perdoar, aos seus preceitos sou uma vadia, não mais encoberta por pêlos que tanto acariciou. Agora sente vergonha de meus gemidos nunca gélidos.

Deixo a casa arrumada, a mesa onde sentariam nossos filhos, os telhados com nossos sonhos.

Sou mulher, a sua mulher para todo sempre.



quarta-feira, 11 de julho de 2007

.Tormentas.


Nem sei ao certo o porquê comecei a escrever, se não sei expressar o que sinto.

Acordei e com a mesma camisola só soube rondar pelas casa, procurando espaço onde pudesse me esconder. Esconder-me do que me rouba as horas, o que ingenuamente pensei ter perdido, mas que encontrei em uma gaveta.

Talvez pior seja notar que apesar da pouca poeira e tantos arranhões, ainda estava lá.

Planejei, então, jogar mar adentro, em mangues fétidos, em meio a florestas virgens. Virei as costas, segui, mas quando abri a gaveta lá estava.

E a angústia não passa ...

Tormentas que me enlouquecem.

terça-feira, 10 de julho de 2007




Não sei se ultrapasso uma linha limite contra qualquer invasão imaginária... mas decidi escrever a você.
Sei que não me conhece ao certo, não sabe meu paradeiro nem a cor de minha ternura disfarçada. Não te conheço, também, em pele e alma, mas imagino sua candura amarela e seus ouvidos de pêssego aveludado...
Hoje tive medo, lembrei-me que o mundo é demasiadamente grande e que as músicas são para serem ouvidas, não possuindo forma física para que meus dedos possam tocá-las nem guardá-las em uma caixa azul onde estão as cartas antigas de pessoas tantas... perdidas nas ruas que nunca mais pisei...
Sinto arrepios por não conseguir tecer o tempo, ele é quem faz rodopios em meus dias dando-me sono enquanto o sol faz vida.
Sabe, por tantas vezes sou uma pessoa feia e ranzinza... sou como viúva amargurada, com gosto de remédio velho na saliva. Às vezes pareço ruim e invento cena e diálogo em que as cartadas e trocos sou eu quem dou aos merecedores. Acho minha ironia tímida e ensaiada.
Outras vezes não quero ser o vento que sopra contra estabilidades alicerçadas no que se chama amor. Só queria saber, enfim, o que é isso e onde posso encontrá-lo in natura... você sabe?
Não sei qual a vantagem de creditarem a mim bondade se não a destino para o meu bem...

Ah sim! Hoje desfiz um mistério, sim mistério... talvez não seja dona de segredos. Desvendei há minutos que em mim habita uma moça antiga que gostaria de ter uma máquina de escrever e a inventou, daquelas que apitam ao término da linha, para que voltemos à margem seguinte... e lá as palavras escritas no papel, sejam pretas ou vermelhas jamais voltarão a ser brancas. São como as palavras ditas que nunca voltam ao mundo do “in-falado”, mesmo que delas nada façamos.
Nossa por que me lembrei da moça das anáguas em mim? Não faz sentido eu sei, mas você sabe que no mundo não há nexo algum... há apenas improbabilidades e paixões impensadas...
Termino esse rabisco junto ao fim de mais um dia lilás alaranjado... Desculpe-me pelo atrevimento, se quiser rasgar em pedacinhos miúdos minhas sílabas não me ofenderei, afinal tenho a certeza de que leu até o ponto final e isso me acalma feito banho de lavanda.